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2005 - Bill Ward do Black Sabbath
A entrevista
Autor admin última atualização em 17/06/2012

Índice

» A entrevista

Nesta incrível entrevista realizada dias antes do Ozzfest Europeu, Bill Ward, gentilmente respondeu perguntas formuladas por fãs.
Isto só foi possível devido contatos de muitos amigos que ao longo dos tempos vem acompanhando o nosso trabalho sobre os quatro músicos que inventaram o estilo que nós tanto admiramos.

" Especial obrigado por esta entrevista vai para meus amigos, Liese Rugo, o Bill Ward e todo o mundo que acreditou em nosso trabalho! "

Publicado em setembro de 2005 - Fanzmosis
Texto e transcrição do auditivo em inglês por Paula Fabri

Perguntas e Respostas:


Fanzmosis: Acompanho o seu trabalho desde Along the Way e When the Bough Breaks (álbuns raros no Brasil) e o single Straws. Gostaria de saber se você vai continuar lançando discos e se Straws será incluído em algum deles?
Bill Ward: Obrigado por fazer essa pergunta. Pretendo continuar fazendo discos até quando puder respirar. O novo disco, que espero poder lançar em breve, talvez nos próximos nove ou 12 meses, irá se chamar Beyond Aston e, nesse álbum, ?Straws? estará incluso.

Fanzmosis: Você sempre considerou Ozzy como um irmão e no passado vocês eram muito próximos. Você comentou que, após terem seguido caminhos diferentes nos anos 70, muitas coisas ruins aconteceram em sua vida (após Ozzy ter deixado o Black Sabbath). Se você pudesse, o que mudaria nessa época e, se pudesse voltar no tempo e dizer algo ao Ozzy naquela época, o que seria?
Bill Ward: O que diria ao Ozzy eu já disse! Falei tudo o que sentia. Não poderia voltar ao tempo e mudar as coisas. Necessariamente, quando olho para trás, acho que cada coisa acontece por alguma razão. Já perdi energia demais e também o desejo de querer voltar atrás. Hoje, não tenho arrependimentos. Gosto das coisas como estão. Mas aprecio essa linha de pensamento da pergunta. Mas essa foi uma boa pergunta. Provavelmente, se essa mesma pergunta tivesse sido feita há 20 anos, poderia ter respondido de forma diferente. Mas, hoje em dia, pensando que tudo tem seu motivo, estou bastante feliz. Para ser honesto com você, nos últimos 21, 22 anos, desde que fiquei sóbrio, venho tentando ser mais atencioso, compreensivo com todo mundo que conheço, incluindo Ozzy. Tentei ser um bom ouvinte e também tento apoiar os outros. Esse é o meu jeito de poder dizer ?eu te amo? e que odiei as coisas que ficaram entre nós, especialmente antes de Heaven and Hell. A forma em que vivo minha vida hoje é para tentar reparar qualquer mal entendido que aconteceu durante os anos 70. Falei com Ozzy, anos atrás, e expliquei que sinto muito sobre as coisas que aconteceram, especialmente quando pediram para o Ozzy deixar a banda.

Fanzmosis: Sempre que vejo uma entrevista do Black Sabbath, parece que as respostas são ensaiadas ou coreografadas por um empresário. Isso realmente acontece? E como podemos saber o que é ou não é real e o que é lenda no Black Sabbath?
Bill Ward: Não sei, posso somente falar por mim mesmo. Não ensaio nada. Simplesmente respondo tentando ser realmente honesto. Como os outros são entrevistados e como respondem, depende deles. Não me importo em ficar bonito, impressionar, salvar minha própria pele, mas existem certas coisas que não divido com o público, porque isso seria algo bobo de se fazer. Mas não me sinto preso à necessidade de ter a coexistência do meu ego com o lado de ser um ?rock star?. Não vivo isso, não jogo esse jogo. Apenas vivo a minha vida, tentando aproveitá-la da melhor forma. Então, quando converso com você, apenas falo com meu coração. As coisas que são reais no Black Sabbath são as músicas. Pelo menos tem sido assim até agora e espero que continue sendo assim. Colocamos o nosso melhor em nossas músicas, em cada canção, todos os dias. Tony é o mestre de cada arranjo e riff e Geezer é um compositor incrível. Mas, ao mesmo tempo, espero que isso não me diminua ou ao Ozzy, porque colaboramos com um monte de outras coisas também! Gostaria de pensar que fizemos isso. Isso é o que é verdadeiro! Com todas as bandas, incluindo o Sabbath, existem estigmas que acabam surgindo, rumores. Mas muitas das histórias que eu ouço hoje em dia, nunca tinha escutado antes. Para ser sincero, elas foram inventadas do nada. Então digo sempre que, seja o que quer que fomos antigamente, era o mais real possível. E sempre que estamos no palco neste verão, quando tocamos no OzzFest no verão dos Estados Unidos, é real, muito real!

Fanzmosis: Em 94, quando esteve no Brasil, mencionou que você e a banda não estavam bem. E, quando estavam em São Paulo, a expressão na face de uma criança de rua te inspirou a fazer música. Você acha que mais bandas e/ou artistas famosos deveriam fazer mais para ajudar os menos afortunados? Você ou o Black Sabbath participam de campanhas beneficentes?
Bill Ward: Acho que são escolhas individuais. Se bandas acham que deviam ou não se preocupar mais, não quero julgar isso, não é um problema meu. Quando um artista quer ajudar, qualquer que seja a causa, acho que isso é uma coisa pessoal. Quando estive em São Paulo, fiquei completamente espantado e aterrorizado com as condições nas quais as pessoas, especialmente as crianças, viviam. E, quando voltei a América, levei isso comigo e isso continua comigo até hoje. Se houver a oportunidade de participar de algo que arrecade dinheiro, qualquer coisa que beneficiasse as crianças de São Paulo, ou em qualquer outro lugar, e se eu pudesse fazer parte disso, responderia a esse chamado.

Fanzmosis: Essa nova reunião do Black Sabbath no Ozzfest será a última vez que vocês tocarão juntos ou planejam uma turnê? Tem alguma possibilidade de virem ao Brasil?
Bill Ward: Certamente espero que essa reunião não seja a nossa última turnê. Do fundo do coração, gostaria muito de continuar a tocar até o ponto que pudéssemos. Se algum de nós ficasse seriamente doente ou percebêssemos que não conseguiríamos continuar, seja qual for a razão, aí tudo bem. Em setembro passado, estávamos detonando. Espero que consigamos fazer o mesmo nesse verão ou ainda até melhorar mais. Ainda há tanto a se fazer, aprender, experimentar que espero que esta não seja a última turnê do Black Sabbath. Quero continuar até quando for possível. Se iremos ao Brasil? No meu coração não teria nada melhor do que visitar a América do Sul com o Black Sabbath original, especialmente o Brasil. Tenho certeza disso. Acho que isso seria ser incrível se acontecesse.

Fanzmosis: Você diz que os outros membros do Black Sabbath foram os seus melhores professores: gostaria de saber se você ensinou alguém o seu ?estilo??
Bill Ward: O que eu quis dizer, quando falei que os membros do Black Sabbath serem professores, é que eles me ensinaram muito sobre a vida, me ensinaram muito sobre música. Por eles serem músicos excelentes, tive de me tornar um músico melhor para ser capaz de entrar em harmonia musical com eles. Quando falei isso, não era necessariamente falando de algo específico e sim sobre experiências da vida e musicais também. Por isso eles foram os meus melhores professores. Quanto ao fato de alguém ter aprendido algo comigo, honestamente não sei. Não estou ciente de como musicalmente posso ter afetado outras pessoas. Talvez possa ter sido um professor, mas isso não aconteceu pelo menos conscientemente.

Fanzmosis: Fiquei feliz em saber que você está sóbrio por mais de 20 anos. Você se sente mais saudável agora?
Bill Ward: Sinto-me ótimo hoje comparando com o que a minha saúde era quando tinha 30 anos. Aos 34 anos estava muito mal. Era como se estivesse morrendo a cada dia. Estava numa condição horrível. Hoje estou me sentindo bem, forte, saudável. Como sou humano, ainda tenho problemas de saúde, mas acho que estou indo muito bem para um cara de 57 anos de idade. Sinto-me muito abençoado nesse sentido!

Fanzmosis: Como você se sente olhando para os diferentes rostos no público e como ele mudou em todos esses anos?
Bill Ward: O público parece o mesmo. Ainda louco, amável, cheio de energia e emoção. Muito atento ao metal e hard rock. Tem sido o mesmo desde que começamos em 68, exceto o fato de que eles ficam cada vez mais novos. Na verdade, acho que o público do Sabbath hoje envolve gerações. Não é incomum ver caras que estão com seus 50, 60 anos nos shows além de crianças de 10 anos e por aí em diante. Tem uma margem de uns 50 anos entre os fãs mais novos e os mais antigos. É incrível! Os mesmos princípios que o rock tinha em 68 ainda existem e as pessoas entendem a música. É um grande prazer para a banda e quem está assistindo ao show. É fantástico ver isso acontecendo por mais de 35 anos!

Fanzmosis: Quais foram as suas melhores e piores experiências com o Black Sabbath?
Bill Ward: O pior, é claro, foi ter de passar por situações incômodas com os empresários na época, perder dinheiro, ser usado, e algumas das brigas que ocorreram por conta da diferença de opiniões. Mas, no fim, essas coisas fazem parte de estar em uma banda. Acho que a pior coisa que já vivencie com a banda foi quando disse ao Ozzy que a banda continuaria sem ele. Muitas coisas aconteceram com a gente. Vi coisas que aconteceram na vida de seus companheiros que não foram fáceis de se enfrentar. Costumávamos fazer tudo junto, especialmente no início da carreira, quando gravamos os três primeiros álbuns. Como esse tipo de comunidade, esse tipo de união entre você e os outros, acaba sendo difícil. Como acontece na vida de todo mundo, as coisas às vezes acabam machucando. As melhores experiências foram a força e a unidade do grupo. Elas apareceram principalmente quando estávamos muito cansados, exaustos e fomos capazes de subir ao palco e tocar como se não houvesse amanhã. Lembro de vezes de estarmos dormindo faltando apenas 10 minutos para tocar por conta do cansaço de estar mais de seis, nove meses direto na estrada. A comida é horrível, você está com frio e fome, sendo esperado para tocar como demônios. As pessoas esperam que o Black Sabbath toque assim. Não podíamos recusar um centavo e tínhamos que tocar em qualquer buraco da melhor forma possível. Isso é algo de que tenho muito orgulho. Um sinal de que uma banda é realmente boa ocorre quando você não pode dar as costas, tem de se recompor e subir ao palco. Vi isso em outras bandas: elas sobem ao palco e, quando elas saem, voltam a uma condição quase que de colapso como estavam duas horas atrás, quando o show ia começar. Acho que isso é absolutamente incrível e diria que é aí que se encontra a nossa força.

Fanzmosis: Como é a conivência com os outros integrantes do Black Sabbath?
Bill Ward: Acho que todos são muito fáceis de lidar e eu os amo muito. Tenho uma relação diferente com cada um deles, afinal eles são diferentes. Gostava de ficar com o Tony, por exemplo, quando estávamos em turnê este ano. Falei com ele há três dias. Conversamos meia hora sobre o show e uns 15 minutos discutindo sobre onde iríamos andar, porque nós dois gostamos de andar. Achamos bastante terapêutico. Andamos por milhas conversando. Acho que essa é a parte da minha relação com ele. Com Ozzy falo com ele praticamente o tempo todo sobre o que quer que estejamos fazendo no momento. Tenho quase que uma vida particular com Ozzy por conta de coisas que estamos recuperando em nossas vidas. Com Geezer não falo muito. Mas, quando estamos juntos como em turnê, ficamos juntos o tempo todo. Gostamos de sair para jantar. Ele é vegan (ps: pessoas que não come nada que tenha procedência animal, desde carne a ovos) e eu vegetariano. Então, sempre saímos para jantar em restaurantes com comidas saudáveis. E também comprar algumas coisas. Fazemos muitas coisas juntos. Como ele é bobo e eu também, fazemos coisas bobas (risos). Acho ele muito engraçado, mesmo quando ele não tenta ser. Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida, desde que éramos adolescentes. Todos eles tiveram grande influência em minha vida e gosto de pensar que me dou bem com os três.

Fanzmosis: Você deve ter muitas experiências para contar após passar tanto tempo no Black Sabbath. Vocês passaram por momentos difíceis, também de sucesso e estressantes. Você conviveu com a banda diariamente. Pode nos contar algumas das historias mais interessantes?
Bill Ward: Essa é uma pergunta difícil. Tenho tantas memórias! Não sei se posso responder isso porque é difícil escolher um fato entre milhares. Essa é complicada, mas acho que para mim foi no início, quando estávamos escrevendo no Centro Comunitário de Aston, em Aston, Birmingham, em 68, 69 e todos sentávamos e tocávamos e você via as músicas ganharem vida através dos riffs. E eu sentia algo em mim dizendo que nossa banda tinha algo de diferente. Era muito excitante ter esse tipo de intuição. Éramos diferentes. Achava que éramos esquisitos e que as pessoas pensavam o mesmo da gente. Os clubes britânicos não deixavam que a gente se apresentasse, porque achavam que éramos loucos. Os únicos lugares que aceitavam que a gente tocasse eram os clubes ?notórios? da Alemanha, Copenhagen, Suécia e Suíça. Eles eram conhecidos como clubes de strip-tease, onde as pessoas não apareciam necessariamente para ver a banda. Mas tivemos muita força e nos recusamos a abaixar a cabeça. Não iríamos desistir. Acho que de alguma forma sabíamos que estávamos fazendo algo realmente bom e amávamos a banda. E continuávamos, sem nos importar com o resto. Não consigo pensar em mais nenhuma que não diminua as outras histórias!

Fanzmosis: Quando o seu novo disco será lançado?
Bill Ward: Por enquanto estou sem gravadora, então não tenho uma data de lançamento. Eu provavelmente terminaria o álbum se alguém me falasse: ?Bill, aqui estão duas semanas, umas fitas, termine o disco?. Acho que com todo material que tenho, terminaria tudo em duas semanas, provavelmente menos. Daí é só uma questão de imprimir a arte, na qual já estamos trabalhando. Estou esperando um contrato para que logo possa lançar o disco.

Fanzmosis: Bill deixe uma mensagem para os fãs brasileiros.
Bill Ward: A primeira coisa que me vem à mente é para que todo mundo se trate gentilmente e, ao mesmo tempo, aproveite a vida, sendo verdadeiros e aproveitando muito rock and roll e metal. Tem muito metal bom. Sei que no Brasil tem várias áreas que são muito pobres e têm coisa políticas que as pessoas não concordam e coisas ainda não resolvidas. Então diria para que todos os fãs de hard rock e metal sejam corajosos, fortes de coração e usem a música como um bom jeito de se manter saudável. Desejo a todos muito amor e não digo isso do meu ego ou da minha cabeça. Digo isso diretamente do meu coração.


(leia a entrevista completa na versão impressa da Revista Comando Rock nº18)

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